O que mais me falam quando digo que sou um fã de longa data dos canais "infanto-juvenis" (colocando muitas aspas nisso, você entende a ironia), é que determinado canal MORREU. Ontem mesmo, ao comentar sobre minhas séries favoritas do Cartoon Network na faculdade, um estimado colega se vira e brada em alto som: "nossa mas o Cartoon já era mesmo né, faleceu!".
E aí, só uma palavra veio na minha cabeça após essa declaração: nostalgia.
É óbvio que o conteúdo de hoje não se equipara com os desenhos, séries e filmes que víamos em nossos anos de formação. Eu por exemplo, tenho um carinho muito grande pelo Disney Channel. Enquanto alguns passavam suas horas vagas em frente ao videogame, eu passava em frente ao canal do rato.
Assistia lealmente as maratonas de Hannah Montana, Zack e Cody, Phineas e Ferb, Boa Sorte, Charlie e outras pérolas dos anos 2000 e 2010. Como era bom acordar em um feriado sem ter aula e sentar no sofá pra acompanhar a vigésima exibição de "Pateta 2 - Radicalmente Pateta" e as raras aparições da série animada Hora do Recreio. Mas o melhor momento do dia era quando os filmes originais do canal passavam. Eu sou um fã incondicional de Camp Rock e High School Musical, as melhores tacadas financeiras já direcionadas pro público juvenil que o mundo já viu.
Enfim, eu era um ávido telespectador da Disney. Hoje, quando dou uma passada no canal, o que vejo?
Não reconheço quase nenhuma marca daquela televisão que me criou. Nem um vestígio sequer de Feiticeiros de Waverly Place, Austin & Ally, Sunny Entre Estrelas, Jonas...
E além disso, o Disney Channel vem apostando muito mais forte em animações e séries pré-adolescentes do que naquele conteúdo púbere, que era direcionado as crianças de 12-15 anos. A tática do canal mudou. A estratégia por detrás do conteúdo mudou. Mas e a qualidade? Mudou?
Vejam, quando se analisa e critica a qualidade criativa de algo, é preciso rechaçar qualquer vestígio daquilo que citei no começo da coluna. A nostalgia deve estar em segundo plano, não se deve invocar sentimentos pessoais. Porque desse jeito, todo e qualquer conteúdo atual não chegaria nem aos pés das memórias afetivas que guardamos de quando assistíamos TV em nossa infância.
"Ah, mas o Cartoon hoje só passa Jovens Titãs". Então, esse é um problema de programação. Mas é algo usual e rotineiro na TV a cabo. No nosso tempo também tínhamos horas e horas de Ben 10 passando no canal. Maratonas intermináveis de Ilha dos Desafios. E ninguém reclamava.
Hoje, séries como A Casa Coruja, Amphibia, Gravity Falls, Os Vizinhos Green, Molly McGee, Ducktales e infinitos outros títulos também foram bem sucedidos em entrar no imaginário infantil e criar novas memórias afetivas para milhares de outras crianças.
A estratégia pode ter mudado, hoje em dia podemos não ter tantas séries e filmes musicais voltados pra adolescentes como tínhamos no passado, mas mesmo assim, tanto o Disney Channel como o Cartoon e a Nick continuam produzindo peças relevantes para o público alvo, que não só respeitam um nível de qualidade audiovisual como também engajam em temas que no passado ainda não eram veiculados, temas nos quais as crianças do futuro precisam ser apresentadas para poder evoluir na sociedade tardia.
É óbvio que os canais passam por maus bocados também (veja por exemplo o estado da Discovery no comando do Cartoon e o cemitério criativo da Nickelodeon), mas eles sempre voltam com tudo. O Cartoon achou Hora de Aventura quando passava por um de seus piores momentos da história. O Disney+ reinventou a TV original da divisão com infinitos títulos de nicho. E a Nickelodeon tá aí né, com mil spin-offs de Bob Esponja.
Portanto, pra acabar com esse assunto, sempre se lembre disso: não deixe que a nostalgia influencie seu julgamento. É honroso manter viva a sua criança interior e continuar acompanhando propriedades que deixaram marcas felizes em seu DNA. Mas sempre mantenha a visão de que tudo evolui e você também precisa.